A cerimônia de abertura do Pan de Santiago 2023: de “fim” a “começo” do mundo

Resumo

As cerimônias de abertura de eventos esportivos são formas de comunicação cultural e justapõem várias dimensões, com aspectos rituais, festivos e espetacularizações. Os Jogos Pan-Americanos (Pan) são o maior evento multiesportivo das Américas, chancelados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como suprema autoridade do Movimento Olímpico nas Américas. O Pan oferece um palco peculiar para examinar culturas esportivas e expressões latino-americanas. O objetivo deste estudo foi analisar discursos e representações de identidade, valores e questões sociopolíticas na cerimônia de abertura do Pan de Santiago 2023. A pesquisa é qualitativa e utilizou a etnografia para a produção dos dados. As notas de campo foram utilizadas para a análise. Como dados suplementares, foram adicionados dados da cobertura da cerimônia do Pan oriundos de um canal de Youtube brasileiro. O Chile sediou o Pan pela primeira vez na história. Compareceram ao Estádio Nacional mais de 35 mil espectadores, com a presença de Thomas Bach, presidente do COI. O espetáculo foi chamado de "A terra e seu povo" e retratou a formação histórica do Chile em dez atos, com povos aborígenes representados e disputas territoriais e coloniais encenadas. As dimensões rituais e festivas enfatizaram valores de resiliência e disciplina ligados ao esporte e ao povo chileno diante das bandeiras olímpica e panamericana. O elemento central do ritual cerimonial enfatizou as complexidades geográficas e territoriais do Chile, reivindicando uma mudança na narrativa sobre o Chile ser o "fim do mundo" para ser compreendido como o "começo do mundo” a partir do evento esportivo. O Pan em Santiago 2023 exibiu um senso de identidade por meio de expressões culturais únicas e da apropriação de símbolos, protocolos e valores do olimpismo para visibilizar a heterogeneidade dos povos chilenos em uma relação dialética com uma suposta unificação das Américas.