COI, ONU e a retórica do esporte como ferramenta para paz e desenvolvimento: notas críticas

Autores

  • Gabriel Felipe Silva Coelho Universidade Federal de Viçosa
  • Doiara Silva dos Santos Universidade Federal de Viçosa

Palavras-chave:

Movimento Olímpico, organizações internacionais, etnocentrismo, hegemonia de poder

Resumo

O Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Organização das Nações Unidas (ONU) são instituições que tiveram suas gêneses influenciadas pelo discurso de promoção da paz em um mundo que vinha sendo atravessado por guerras. Essas duas organizações, no século XXI, têm desenvolvido agendas políticas com propostas convergentes, apresentando narrativas sobre paz, desenvolvimento e outras questões sociais emergentes. Pode-se citar como exemplo dessa convergência de agendas os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) articulados pela ONU, e as Agendas Olímpicas 2020 e 2020+5, desenvolvidas pelo COI. Observando essas semelhanças discursivas históricas e recentes, inclusive no que tange à utilização do esporte como ferramenta para paz e desenvolvimento, é evidente que COI e ONU compartilham certas narrativas. Todavia, há uma lacuna na literatura em língua portuguesa no que diz respeito à análise da relação entre estas duas instituições. Portanto, este estudo teve como objetivo articular, através de dados de literatura nacional e internacional, reflexões e análises sobre a relação histórica entre COI e ONU, em perspectiva crítica. Analisando a origem de ambas as instituições, foi possível perceber que, desde os seus nascimentos, houve influência etnocêntrica e hegemonia de poder do Norte Global. O COI foi forjado por europeus, assim como a filosofia do Olimpismo. No que diz respeito à ONU, essa instituição teve os Estados Unidos como principal nação atuante na sua formulação, e estabeleceu sua perspectiva de paz e desenvolvimento a partir de ideais do Norte Global. Na segunda metade do século XX, o discurso do Esporte para o Desenvolvimento e a Paz se tornou uma ferramenta conveniente para ambas as instituições, o que acabou por, aos poucos, aproximá-las. No século XXI, a relação entre as duas organizações tem se mostrado mais concreta, com o COI ganhando considerável prestígio dentro da ONU.

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Biografia do Autor

Gabriel Felipe Silva Coelho, Universidade Federal de Viçosa

Licenciando em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Atualmente, é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na modalidade Iniciação Científica, onde realiza a pesquisa intitulada "Agenda 2020+5: Movimento Olímpico, governança e pautas globais". Entre 2023 e 2024, também realizou pesquisa de Iniciação Científica financiada pelo CNPq, com o título: "Atleta trans nos Jogos de Tóquio 2020: Laurel Hubbard e as narrativas midiáticas sobre corpo, saúde e performance". É membro do Laboratório de Estudos Olímpicos e Socioculturais dos Esportes (LEOS). Foi voluntário do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), nos anos de 2023 e 2024. No ano de 2024, teve vivência internacional na área de Estudos Olímpicos, com apresentação de trabalho em Besançon, na França, visita ao Comitê Olímpico Internacional e ao Centro de Estudos Olímpicos, em Lausanne, na Suíça. Possui interesse nos temas: Estudos Olímpicos; Sociologia do Esporte; Estudos Socioculturais do Esporte; Geopolítica Internacional e Esporte. 

Doiara Silva dos Santos, Universidade Federal de Viçosa

Professora Adjunta do Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa. Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus-BA, 2008. Mestre em Educação Física, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), 2011. Doutora em Educação Física, University of Western Ontario (UWO), London, Canadá, 2015. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFV). Líder do Laboratório de Estudos Olímpicos e Socioculturais dos Esportes (LEOS). Membro da International Sociology of Sport Association (ISSA). Atuou no quadro docente efetivo das seguintes instituições de ensino: Professora Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação (2013.2 e 2014.1); Professora Assistente da Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação Física, Campus de Governador Valadares, Minas Gerais (2014-2016); Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Campus Itapetinga (2016-2017). Foi professora Substituta da Universidade Federal do Espírito Santo (2011). Foi bolsista do programa de estudos Emerging Leaders of America (ELAP), Canadá, 2010. Membro da Academia Olímpica Brasileira, participante do 18th Postgraduate Seminar of Olympic Studies da Academia Olímpica Internacional, Olímpia, Grécia (2011). Temas de interesse: Sociologia do Esporte; Estudos Olímpicos; Esporte e Mídia; Esporte educacional; História da Educação Física e do Esporte; PIBID.

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Publicado

07-11-2025

Edição

Seção

Artigo Original